segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Novo mundo, velho mundo...

Toca o telemóvel, o vil objecto desperta-me para a vida dos compromissos roubando-me o mundo dos sonhos sem qualquer pudor.

Ao abrir os olhos tudo parece igual, a mesma cama demasiado pequena, as mesmas paredes, os mesmos objectos, o caos por todo lado.

Abandono o conforto quente e seguro e maquinalmente dou início à rotina, preparando-me para mais um dia: despe, veste, come, bebe, escova, lava, arruma, sai.

Ao chegar à rua tudo me é familiar, já vi esta imagem milhares de vezes e ainda assim, no fundo da nuca sinto um arrepio, um aviso de que nem tudo é o que parece.

Passa por mim um casal, certamente a caminho do café antes do trabalho. Os seus lábios movem-se de forma alternada, deles sai som mas não são palavras, pelo menos não são palavras que eu conheça, serão estrangeiros? Olho melhor para eles, para tentar descobrir algum traço fisionómico que me de uma pista da sua origem.

Merda!!! O que é que se passa? Eu conheço-os, já os vi várias vezes... mas há algo diferente neles, não sei dizer o quê. Fico tão consternada com esta evidência que me dirijo também para o café. Ao chegar, vejo atrás do balcão uma mulher que certamente também conheço. Olha para mim e desata numa patacoada incompreensível, vai mostrando os dentes e esbracejando. Neste momento sinto-me apavorada, não consigo abrir a boca para que se solte um pedido de ajuda. A mulher atrás do balcão age como se tivesse sido sempre assim, parece saber o que quero. Coloca à minha frente uma chávena pequena com uma espuma castanha que obscurece um liquido amargo e escuro por baixo.

Olhando fixamente para o líquido tento compreender. Só posso ter sido enviada por alguém ou alguma coisa para um mundo paralelo, um mundo em tudo semelhante ao meu mas que não o é. Só pode ser um engano, erro, brincadeira de mau gosto, malvadez! Ou... estarei eu no mesmo mundo de sempre só que neste preciso instante descobri que não é o meu lugar, que não lhe pertenço?

Deixo um circulo de metal timbrado em cima do balcão, viro costas e saio. Chego à rua, faço uma pausa, inspiro fundo, encho-me de coragem e acendo um cigarro.

Seja que mundo for este vou ter que enfrenta-lo.

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