terça-feira, 17 de novembro de 2009

À noite


Esta noite há relâmpagos sobre o mar. Vejo-os da minha janela, fico a olhar para eles, como que em transe, de tão lindos e poderosos que são.
Sento-me na poltrona perto da janela, bem enroladinha ao meu cobertor e contemplo, sinto-me pequena no meio de tanto negro e de ocasionais raios de luz. Em Inglês existe uma palavra para este sentimento: "humbelling", não me lembro de nenhuma palavra em português que descreva exactamente isto... (talvez me possam ajudar...)

Passamos os dias ocupados com as mais variadas tarefas, somos produtivos, temos funções importantes, que visam melhorar a vida dos outros ou ajudar de alguma forma, não raramente, sentimos-nos pequenos deuses, em controlo de todas as variáveis, no fundo vamos vivendo em piloto automático... mas depois chega a noite e sempre que paramos um pouquinho para ouvir o que ela tem para dizer retornamos à nossa singela condição de humanos, pequenos neste universo imenso. Olhamos para o céu e quase que nos sentimos encolher uns centímetros.

Consciencializamo-nos de conceitos que não fazem parte do nosso quotidiano, embora os conheçamos. Pequenos conceitos como o espaço, que existe muito para além daquilo que a nossa mente limitada consegue conceber, debitamos números tão grandes que não passam disso mesmo ("
O Universo tem pelo menos 156 biliões de anos-luz (um ano-luz equivale a 9,5 triliões de km) de largura") ou o tempo, tanto o que passou desde a criação do universo como aquele que ainda está para vir.

A mente enche-se de pequenas e grandes dúvidas existenciais e tentamos contextualizar as coisas, tudo se torna tão relativo, tão insignificante.
No fundo, mais não somos que um amontoado de partículas que existem desde o inicio dos tempos. Partículas essas que, despojadas do drama das vidas humanas já foram rocha, já foram verde e porque, nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma, quando morrermos, seremos apenas pó.

No meio das minhas divagações entra no quarto uma criatura que pertence de corpo e alma a este mundo e pergunta-me:
- O que é que estás a fazer?
Eu pego no livro que estava pousado no colo e respondo que estava só a ler...


3 comentários:

  1. "mas depois chega a noite e sempre que paramos um pouquinho para ouvir o que ela tem para dizer retornamos à nossa singela condição de humanos, pequenos neste universo imenso"

    E se isto também acontecer durante o dia?

    ResponderExcluir
  2. Pode mas neste caso tratou-se de uma relfexão nocturna :P
    De dia podes ver o mar revolto, as nuvens e mais uma série de coisas,o negro absoluto contudo, é prerrogativa da noite e a mim nada me faz sentir tão pequenina como uma noite de trovoada...

    ResponderExcluir
  3. O problema é mesmo esse: vivermos em piloto automático. Acabamos por deixar a vida passar, sem que vejamos o que é realmente importante. Somos tão pequeninos...

    ResponderExcluir